Angola espera-nos...(ou nós esperamos Angola...?)

segunda-feira, setembro 25, 2006

Uma pequena partilha...

Ontem estive a jogar matrecos e veio-me à memoria uma recordação que partilho com vocês...

Esta história é sobre o facto da imaginação humana conseguir por vezes superar em muito a falta de meios! E acaba por ser um exemplo para quem tem tudo ao alcance do braço...

No Centro Criança Feliz, no Huambo, um centro de acolhimento de rapazes, estive a jogar umas boas partidas com os rapazes (e com a minha querida Patricia!!).

E vocês devem estar a pensar: "matrecos?! ... uauuuu!!". Pois, mas a mesa dos matrecos não estava nas melhores condições como devem imaginar...

De facto, a mesa já não tinha o tampo, ou seja, o "campo onde os jogadores trocam a bola". Mas isso foi facilmente resolvido: nada que um pedaço de cartão grosso não resolvesse!

Mas o que mais me impressionou não foi esta resolução prática!

É que para além do "tampo", havia também falta de bola!! A solução que eu achei genial foi também ela mto simples e eficaz: fazer a bola!: fazendo uma bola com plásticos e água, levavam ao fogo, o plástico derretia e, depois de arrefecer, ficava um material relativamente leve, mais pequeno e redondo que servia perfeitamente!!

Sempre considerei que a maior das capacidade do ser humano é a de se conseguir adaptar a (quase) todas as circunstâncias!

E sim...levei algumas "tareias" nos matrecos!! LOL


Deixo-vos uma foto minha com o Mário, um grande construtor de automóveis lá do centro... mas esta é uma outra história... brevemente num blog perto de si!






Beijinhos Sem Fronteiras
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domingo, setembro 17, 2006

Entrevista ao Bruno

Olá pessoal!

Deixo-vos agora algo diferente! Um trabalho de alguém que acompanhou o nosso regresso e "apanhou" o Bruno acabadinho de chegar de Angola. Aqui fica a entrevista do meu Bruninho (com todo o respeito, Claudinha!!LOL). Tomei a ousadia de corrigir pequeninos pormenores.



As crianças pouco sabem da vida, a não ser a guerra

Bruno Leite, jovem jornalista do Barreiro, licenciado em Comunicação Social, viveu o mês de Agosto, em Angola, as memórias da guerra, ao participar no projecto “Ponte”, da Associação de “Jovens sem Fronteiras”.Bruno Leite em breve conversa com “rostos” recorda essa sua aventura pelas terras de Huambo


A Associação “Jovens Sem Fronteiras” promove anualmente em Agosto, no âmbito do projecto “Ponte” a participação de jovens, oriundos de vários pontos do paísu, em acções de trabalho voluntário e de solidariedade com os povos.Bruno Leite, jovem jornalista do Barreiro, participou, com jovens de várias áreas, desde enfermeiros, estudantes, a trabalhadores com diversas formações, acompanhados por um Padre Missionário Espírito Santo, numa acção de solidariedade com Angola.

Montar um Ludoteca com material levado de Portugal

“Estivemos na cidade de Huambo, antiga Nova Lisboa. O nosso epicentro de trabalho foi Mwenho Ukola, um orfanato de meninas de ruas, que conta com o apoio da Associação “Jovens Sem Fronteiras”, onde estivemos a montar um Ludoteca, com material que foi levado de Portugal, oferecidos por pessoas das várias localidades onde os “Jovens sem Fronteiras” estão inseridos.Foram dados livros, cadernos, jogos didácticos. Estivemos a montar a fazer desenhos nas paredes.Transformámos aquele centro, tornando-o mais funcional para as crianças, em termos de estudo e como espaço para brincadeiras.” – recorda Bruno Leite.

Crianças que pouco sabem da vida a não ser a guerra

“Foram crianças que nos deram alguns sorrisos e isso foi muito compensador, porque, elas, são crianças que pouco sabem da vida, a não ser a guerra, que acabou à pouco tempo e, sente-se, que elas ainda a sentem a guerra nas suas cabeças.Nós fomos, ali, dar algum incentivo e acho que isso foi conseguido.” – sublinha com emoção Bruno Leite.

Falámos de Direitos Humanos

“Para além disso estivemos na Kamussamba, uma aldeia perto de Huambo, num Centro Mutilados, onde homens e mulheres com várias deficiências físicas, produzem artesanato.Na nossa estadia promovemos formação dirigida a mulheres, com a colaboração da PROMAICA – Promoção da Mulher Angolana da Igreja Católica. Falámos de saúde, da questão básica que é a cólera, na sua prevenção.E como grupo Católico que somos falámos de espiritualidade e demos também essa formação.Falámos de Direitos Humanos nomeadamente sobre o papel da mulher e do homem perante os Direitos Humanos.” – salienta Bruno Leite.

Fazem 30 km a pé para ir à Missa

“Esta é uma experiência que os “Jovens sem Fronteiras” fazem anualmente, no mês de Agosto, é o projecto – “Ponte”.Este ano só fui eu do Barreiro, mas noutros anos já foram outros jovens do Barreiro.Nós que somos “Espiritanos” fizemos uma pequena homenagem no Bailundo, onde morreu aquele missionário, em Fevereiro. Foi uma homenagem onde participaram, numa Missa, pessoas que percorreram cerca de 30 Km, para participar na Missa.Nós que, aqui, por vezes, nem vamos à Missa, ver aquelas pessoas que fazem 30 km a pé para ir à Missa, toca-nos bastante.” – refere emocionado e com um brilho nos seus olhos, Bruno Leite.

Olhar os picotados das paredes, marcas de balas

“São coisas que nos marcam, sentimos que a destruição em Angola é muita, há muita miséria, mas acho que ainda há uma esperança. A minha participação neste projecto foi a realização de um sonho, uma coisa que eu queria fazer há muito tempo.Eu estava a estudar jornalismo e já desejava realizar esta missão, este trabalho de voluntariado.Foi o realizar de um sonho e foi conhecer uma realidade, que conhecia de ouvir, mas, vendo, sentimos que ver é muito diferente de ouvir.Sentir e ver as pessoas, olhar os picotados das paredes, marcas de balas. Ver os rostos e acima de tudo ver o sorriso, um sorriso de quem sente que está a viver em paz.

“Até que enfim estamos a ter visitas” – era um comentário que por vezes se escutava. Gostavam de nos ver ali, a todos nós, 11 brancos.Eu espero que Angola melhore e que a nossa passagem por ali seja um contributo para que seja construído um ponto de esperança.” – sublinha a finalizar Bruno Leite. Nota-se no rosto de Bruno Leite, enquanto fala desta sua experiência, emoção e uma alegria enorme de ter partilhado de forma voluntária o seu saber e a sua espiritualidade.Uma experiência que quer repetir...enquanto o jornalismo está à esepera de novos projectos.

S.P.
15 - 9 - 2006

http://www.rostos.pt/paginas/inicio2.asp?jornal=18&revista=5&cronica=30213&mostra=2

Obrigada Bruno pela ideia e por me ajudares a contar como foi!

Beijinhos sem Fronteiras

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quinta-feira, setembro 14, 2006

Bailundo

Comprometi-me a actualizar o blog... e é o minimo que posso fazer (têm razão!!).


Pensei em talvez começar pelo mais "fácil". Vou começar pelo Bailundo!Não é que tenha sido o dia mais fácil da ponte (nem faço ideia qual foi!!LOL). Mas foi um dia onde me lembro de sentir uma paz enorme...(mas este sentimento não é muito partilhado no grupo). Quando falo no Bailundo, não me refiro à localidade em si, mas à missão católica do Bailundo. Acho que deu para perceber como eram realmente as missões portuguesas há 40 anos atrás. Mas o local em si, com arvores grandiosas e uns montes fantásticos, onde o gado pastava sob o olhar atento de um menino pastor, vai-me ficar na memoria.




O Padre Bongo é quem assumiu a missão, depois do Padre Moreira ter sido assassinado. Este é o que torna tudo tão irreal: a paz do lugar, torna impossível de acreditar que uma barbaridade daquelas tinha acontecido no dia a seguir a ter contado aos meus pais que viria para Angola (Fevereiro)!

No dia da visita ao Bailundo, tivemos a nossa primeira "super-missa"! foram 4h...de danças, canticos, palmas, alegria, entrega e fé! Numa Eucaristia onde foram crismados dezenas de jovens, e onde o povo deu o pouco que tinha! Isto mostra-nos o nosso egoísmo: quem tem menos (leia-se bens materiais!!), tem mais facilidade em despegar-se do que lhe pertence. Os alimentos que foram oferecidos no Ofertório bem o revelou!

A maior das lições que fica é a dificuldade e complexidade do que é a Missão! Para além da cultura diferente, e do contexto diferente, existe ainda a dificuldade de adapatação que qualquer ser humano sente num ambiente diferente ao seu... ser missionário é um grande desafio!Mas eles estão prontos a entregarem-se ao outro!

Aqui fica a minha homenagem a todos os missionarios(as) que nos acompanharam neste mês de Agosto. Em especial ao P.Moreira que fez da sua vida um exemplo de doação e coragem.

Beijinhos sem Fronteiras

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domingo, setembro 10, 2006

Foi...!


Durante 7 meses preparámos uma ponte. Num mês vivemo-la. Mas no resto da vida não vamos conseguir esquecê-la. De facto, esta ponte foi para mim, muito marcante. Marcaram-me os sorrisos e olhares das crianças nos centros de acolhimento, os cânticos de quem nos recebia de braços abertos e as Eucaristias celebradas por comunidades empenhadas (que por vezes tiveram de se deslocar 50km a pé para estarem presentes).


O grupo que comigo partilhou esta experiência merece também o meu carinho e gratidão: sem eles eu não teria conseguido...

No entanto, o facto de que tomei mais consciência foi o trabalho de quem dá uma vida inteira. A nossa experiência só foi possível porque antes de nós chegarmos, já muitos outros por lá passaram e se deram verdadeiramente. Isso sim é missão! E isso pudemos ver concretamente no Bailundo, no Seminário Maior Espiritano no Huambo, na Kamussamba, ou até mesmo em Luanda. O esforço e sacrifício diário daqueles que nos acompanharam merecem todo o nosso respeito e oração.

Até breve

Beijinhos Sem Fronteiras

:: posted by Cat, 11:16 da manhã | link | 6 comments |